Precisei gastar o que restou do meu parco salário açambarcando o estoque de aguarrás, creolina e Q-BOA™ do mercadinho do bairro para higienizar minha caixa de comentários destrutivos. É ÓBVIO que não vou dar palco pra maluco esquerdista dançar no meu blog. Que vão fazê-lo lá no blog da "Sylmara Melendez", do Saka e quejandos.
Contudo, um comentário bem-educadinho (mas não menos mal-intencionado) que chegou merece esmagamento coram populo. O busílis da questão é que a pessoa me "acusa" de ter embasado boa parte da minha argumentação no estudo do Mark Regenerus sobre o assunto em questão. No início, para me refutar, ela lança mão de uma crítica da Amy Davidson ao estudo, publicada na esquerdíssima New Yorker em junho de 2012.
Eis o trecho que ela pinçou (devidamente traduzido, com grifo meu. Quem quiser, leia o original):
“(...) se este estudo mostra alguma coisa, não é o efeito da criação de filhos por gays, mas o efeito da ausência de criação. Os números são tão toscos que é difícil generalizar, mas é possível imaginar de modo lógico que existem, enterrados neles, história de pais que se foram ou que foram separados de seus filhos, ou lares que foram desfeitos, porque, 18 ou 39 anos atrás, a primeira experiência de alguém na vida adulta envolveu um relacionamento heterossexual, mesmo que ele fosse insustentável. Segundo Saletan, o estudo “não documenta o fracasso do casamento entre pessoas do mesmo sexo, e sim o fracasso de lares reprimidos, desfeitos e instáveis que antecederam o casamento entre pessoas do mesmo sexo”. Já sabemos que há vantagens na estabilidade, e isso é o que sempre disseram os defensores do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Se a única questão for a maneira de ajudar os filhos, o casamento entre pessoas do mesmo sexo continua sendo uma resposta sólida. Basta olhar por aí: mesmo com ferramentas inadequadas como as que foram usadas nesse estudo, é possível encontrar crianças solitárias e, também, pais solitários. Além disso, podemos encontrar famílias que se mantêm unidas pelo respeito e pelo amor, e merecedoras de ambos”.O salsinha levógiro prossegue num tom ameaçadoramente tolerante (grifo meu):
"Não tenho esperança de que isso faça você mudar de idéia. Só estou dizendo que talvez não seja muito inteligente confiar tanto assim nos dados do estudo de Mark Regnerus".
Já que "o criaturo" (ué, se "presidenta" pode...) recorreu ao expediente de argumentar com argumentos alheios, vou me dirigir ao texto da Amy Davidson, não a ele.
Quanto ao uso do termo "lares 'reprimidos'" (no original, closeted, ou "no armário"), essa é uma maneira politicamente correta e muito esquisita de dizer “bissexuais e homossexuais que tentaram levar uma vida dupla, portanto prejudicando a si mesmos e às suas famílias”. É a mesma estratégia da novilíngua politicamente correta, pela qual o flagelo dos sacerdotes homossexuais da Igreja é magicamente transformado num “escândalo de pedofilia” em vez de um escândalo homossexual, o que claramente é quando homens violentam homens e meninos.
Vejam este outro mimo do texto da Amy Davidson:
Basta olhar por aí: mesmo com ferramentas inadequadas como as que foram usadas nesse estudo, é possível encontrar crianças solitárias e, também, pais solitários. Além disso, podemos encontrar famílias que se mantêm unidas pelo respeito e pelo amor, e merecedoras de ambos.
Mais uma vez, um caso clássico de moral dupla, pois pressupõe uma definição relativizada de família, amor e respeito. Na nossa sociedade, famílias desfeitas e divórcios passaram a ser tão normais que ninguém mais se envergonha disso. Passamos da empatia e da misericórdia (que pressupõem reconhecer que ocorreu uma tragédia moral) para o incentivo e a tolerância de adultos infantilizados, incapazes de estruturar famílias (o que exige a supressão da consciência moral).
Todos, hoje, podem dizer que conhecem uma família desfeita ou que têm amigos homossexuais, ao passo que as famílias tradicionais rareiam. Em vez de identificar essa situação como uma crise, as pessoas a justificam e incentivam.
Outro trecho do comentário, desta vez de "próprio punho":
Acho que você está confundindo a necessidade dos filhos de ter “papai e mamãe” com aquilo que (sic) eles realmente precisam de seus pais (seja qual for o nome). Num mundo ideal, as crianças precisam, se possível, de dois pais, porque dois, por razões práticas, são normalmente melhores do que um, e as crianças precisam de modelos de gênero, que elas podem encontrar tanto dentro quanto fora da família imediata. Principalmente, as crianças precisam de educação, apoio e amor, que devem existir no dia-a-dia (é claro que disciplina e estrutura também fazem parte). Filhos criados por casais homossexuais (sic!) podem ter tudo isso, o que, ao menos para mim, é muito mais importante do que o fato de que eles terão que abandonar a terminologia tradicional de “papai e mamãe”. Se mães solteiras (ou até mesmo enviuvadas) podem criar e criam muito bem seus filhos, e se pais solteiros (inclusive enviuvados) podem criar e criam muito bem suas filhas, não vejo por que casais do mesmo sexo não podem proporcionar uma boa criação.
Deixando de lado os dados estatísticos que demonstram claramente que lares de pais e mães solteiros são incapazes de criar bem seus filhos (como provam especialmente os índices de criminalidade), há uma razão totalmente lógica para as crianças precisarem de pais e mães presentes, e, sobre o assunto, recomendo a leitura do livro "A Arte de Amar", de Erich Fromm, que é apresenta essa lógica de maneira sucinta e acessível.
Sobre as viúvas e os viúvos, nenhuma pessoa de bem se empenha em viver sozinha, assim como nenhuma pessoa de bem se empenha em se divorciar. A tendência de pinçar lares de pais solteiros e dizer “eles estão se virando bem, portanto esse pode ser um modelo de famílias” decorre da estranha tendência esquerdista de tratar todo e qualquer forma do ideal da família tradicional como um insulto à integridade do amor de uma mãe solteira pelo seu filho.
Acidentes e circunstâncias podem levar as pessoas para mais perto ou mais longe do ideal, mas não adianta nada fingir que essas situações serão o ideal.
Para não me tacharem de inflexível, vamos admitir que, se dois homossexuais achassem um bebê numa ilha deserta, o bebê se sairia infinitamente melhor se fosse criado por eles em vez de ser deixado à míngua, assim como é melhor ter só o pai ou só a mãe em vez de nenhum deles. Mas esses não são ideais pelos quais devemos nos empenhar. Pais solteiros devem tentar encontrar um cônjuge, e os homossexuais, embora possam ser bons tios/tias, não têm como ser bons pais, caeteris paribus.
Percebo que essa discussão toda demonstra o estrago que a propaganda homossexual já causou na sociedade, pois, em termos de família, fomos reduzidos ao debate sobre quem devem ser os pais, esquecendo-nos de que uma das grandes tragédias das famílias desfeitas, das famílias uniparentais, etc. e da vida moderna em geral (mesmo quando pai e mãe estão presentes) é a falta de tios, tias, primos, avós, etc.
Uma família é muito mais do que apenas os pais, e os filhos sofrem se crescerem sem todos os seus componentes. Se os homossexuais não tivessem seqüestrado o debate público, talvez estivéssemos debatendo maneiras de fortalecer a economia para que as famílias não precisassem viver separadas e distantes e pudessem ter contato com maior freqüência do que em datas comemorativas ou velórios.