
O arroz é o alimento básico de bilhões de pessoas. Embora seja uma excelente fonte de calorias e carboidratos, o arroz branco não tem os nutrientes necessários para uma dieta equilibrada (Como me disse certa vez um cardiologista, "arroz não passa de excipiente q.s.p."). Até mesmo as populações que têm acesso a uma quantidade suficiente de calorias provenientes do arroz para seu sustento podem, mesmo assim, estar sujeitas à desnutrição. Uma forma especialmente universal de desnutrição é a deficiência de vitamina A.
A Organização Mundial da Saúde calcula que entre 250 mil e 500 mil crianças ficam cegas todos os anos devido à carência de vitamina A. Um dado ainda mais infeliz é que aproximadamente metade dessas crianças morrerão no espaço de 12 meses. Esse é um problema gravíssimo que os cientistas Ingo Potrykus e Peter Beyer esperavam solucionar com a engenharia genética.
Em 1982, os cientistas começaram a pesquisar uma maneira de fortificar o arroz para ajudar a combater a deficiência de vitamina A. Em 1999, Potrykus and Beyer apresentaram um protótipo chamado “arroz dourado”. O arroz dourado contém beta-caroteno, que, às vezes, é chamado de “pro-vitamina A” porque pode ser transformado pelo corpo em vitamina A. O beta-caroteno é encontrado em vários legumes, mas não no arroz. Os dois pesquisadores descobriram que o arroz tinha todos os mecanismos necessários para produzir o beta-caroteno, mas não tinha os genes para "ativar" essa capacidade. O novo arroz foi criado através de engenharia genética, primeiramente transferindo dois genes do narciso no arroz e, depois, incorporando um gene do milho e outro gene encontrado num microorganismo comum do solo.
Grupos ambientalistas se opuseram com veemência ao arroz. Embora os inventores ofereçam a semente sem custo algum, na esperança de que os agricultores de zonas rurais pobres do mundo consigam usar a invenção deles em proveito próprio, ninguém conseguiu, ainda, autorização para plantá-lo. Mesmo assim, a idéia de fazer com que lavouras básicas produzam beta-caroteno "pegou". Em Uganda, pesquisadores estão testando uma “banana dourada” criada por meio de engenharia genética, que, segundo eles, pode ajudar a combater a desnutrição em populações que têm na banana sua fonte principal de calorias.
Causa espécie um argumento dos ambientalistas contra esses alimentos "dourados". Eles dizem que esses alimentos não são bons o suficiente. O arroz dourado foi tachado de "falsa esperança" e acusado de ser uma “farsa”. O motivo? Essas pessoas argumentam que o arroz dourado não tem como ajudar a atenuar a deficiência de vitamina A, pois, aparentemente, os seres humanos transformam o beta-caroteno em vitamina A de maneira mais eficiente quando a dieta também conta com gorduras, e, provavelmente, as pessoas desnutridas não ingiram gorduras em quantidade suficiente.
Há alguma controvérsia quanto à quantidade de gordura extra necessária numa dieta para que o beta-caroteno seja mais bem aproveitado (a banana e o arroz contêm baixo teor de gordura). Também há algumas evidências de que, mesmo sem nenhuma gordura a mais, o beta-caroteno presente no arroz dourado (ou nas bananas douradas) pode ser transformado em vitamina A nos desnutridos e ajudar a aliviar os piores sintomas da deficiência de vitamina A. O arroz dourado ou as bananas douradas também podem substituir legumes verdes folhosos (que também contêm beta-caroteno) quando estes não estiverem à disposição para ajudar a reforçar a vitamina A.
Contudo, independentemente de as pessoas decidirem ou não se querem plantar e consumir o arroz dourado, elas devem ter a possibilidade de tomar essa decisão. Num mercado livre, fatos sobre nutrição naturalmente influenciariam as decisões dos indivíduos (nutricionistas, empresas produtoras de sementes, agricultores, organizações beneficentes e consumidores) sobre o desenvolvimento, o plantio e o consumo de um determinado alimento. Mas vivemos num mundo em que essas decisões são passíveis de coerção por parte do governo através de financiamentos de grande porte e programas de regulamentação.
Esse é, também, o tipo de decisão que grupos ambientalistas como o Greenpeace querem tomar pelas pessoas. Eles defendem “hortas caseiras e suplementos vitamínicos” para combater a deficiência de vitamina A e destroem de maneira boçal e soberana campos de teste onde alimentos geneticamente modificados são cultivados. Eles também pressionam os governos para que proíbam as populações desnutridas de tomar essas decisões com independências. Esses grupos consideram uma vitória quando os governos fazem com que o plantio, o consumo, a venda ou a importação de alimentos geneticamente modificados, como o arroz dourado, sejam atividades fora da lei.
Quando as decisões sobre alimentos passam a fazer parte da esfera política, todos os tipos de grupos de pressão têm o poder de influenciar o braço forte do governo. Eles usam esse poder para empurrar goela abaixo dos cidadãos programas que limitam as opções, atrapalham e até mesmo proíbem que alimentos cheguem às pessoas que podem querer consumi-los.
Esse é um dos motivos pelos quais o debate sobre alimentos geneticamente modificados é importante, e pelos quais tenho muito mais a dizer sobre essas questões.
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