quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Aos que canonizam Nelson Mandela...



O recém-defunto Nelson Mandela sempre foi um comunista. Ele chegou a escrever um livrinho intitulado “Como Ser um Bom Comunista”. Ele foi um dos fundadores e diretores de uma organização terrorista chamada Umkhonto we Sizwe (Lança da Nação). Ele nunca deixou de admirar tiranias e ditaduras vermelhas.

O Mahatma Gandhi foi uma pessoa bastante cruel. Ele mantinha deliberadamente os mais ou menos 50 indianos que trabalhavam em sua fazenda na África do Sul (conhecida como “Fazenda Tolstoi”) em estado de desnutrição para tentar provar a teoria de que o corpo podia aprender a sobreviver praticamente sem alimento. Além disso, Mandela não pagava salários aos trabalhadores, portanto não é errado chamá-los de escravos. Ele abandonou a esposa e os filhos que teve no tempo em que passou na África do Sul, deixando-os à míngua quando voltou à Índia. Em 1946 ele comentou sobre o Holocausto: “Os judeus deveriam ter se oferecido ao cutelo do açougueiro”. Ele confessou ser um libertino antes de criar a teoria de que o corpo poderia se adaptar a viver sem sexo. Então, depois de velho, para provar sua capacidade de resistir às tentações, ele fazia com que mocinhas "casadoiras" dormissem ao seu lado sem nunca tirar proveito delas. Nunca foi registrado o que as mocinhas achavam da experiência. Ele era, ainda, um impostor. A imagem que ele gostava de projetar, de um homem que não precisava de nada além de um trapo para vestir e uma roca para fiar, foi desmentida pela despesa astronômica com que o Ministério das Relações Exteriores britânico precisou arcar em 1931 para atender à sua exigência de “viver entre os pobres” no East End de Londres. Eles precisaram comprar casas, reformá-las, providenciar segurança, mobiliá-las com os melhores móveis, mas deixando para o Mahatma uma sala nua onde ele poderia se reunir com diplomatas e com a imprensa. Se ele exigisse um andar inteiro do Ritz, isso custaria menos aos seus anfitriões.

Gandhi morreu há muitos anos. Mandela morreu hoje. O obituário no New York Times é quilométrico, e os portais de notícias (além das redes sociais) estão grávidos de encômios e encomiastas louvando-o desavergonhadamente (além disso, há críticas sobre ele por ser muito brando ou muito radical, dependendo do ponto do espectro político de onde vêm as críticas). Mas Mandela, assim como Gandhi, será tão imortalizado quanto um mortal pode ser.

A raça humana precisa de salvadores heróicos. Ela precisa de Mandelas e Gandhis, assim como precisou de Moisés, Jesus Cristo, Maomé e Buda.

Para quem não enxerga além da superfície, Mandela deve ser retratado como o herói-mártir que comprou da opressão branca a liberdade dos negros, com seu longo tempo no cárcere; que deu um exemplo de perdão; que manteve a paz apesar da intensa provocação para que recorresse à violência. Ele deve ser retratado como um modelo de virtude paciente sob o jugo da opressão racista, a vítima perfeita, sem espírito vingativo, que ascendeu à nobre liderança de uma nova África do Sul democrática.

Esse retrato é falso, assim como é falso o retrato de um homem bom e simples de Gandhi. E Gandhi não libertou a Índia do Raj britânico com seu movimento de resistência passiva mais do que Mandela derrubou o apartheid com sua liderança revolucionária exercida sem sair da cela de uma prisão.

Mas a verdade sobre Mandela e Gandhi não terá muita importância. Ela não fará nenhuma diferença para aquilo que eles devem representar a fim de saciar uma necessidade humana. O ídolo Mandela é maior, muito maior, do que o verdadeiro homem, assim como o ídolo chamado Gandhi. Em ambos os casos, o mito já tomou o lugar do homem.

Salvadores eles permanecerão no inconsciente coletivo, seguirão sendo as personificações de ideais mantidos com fervor. Com a mesma profundidade que os ideais são necessários, as personificações desses ideais serão adoradas e reverenciadas, sendo-lhes negados as fraquezas e os vícios na mesma medida em que os ideais em si podem ser renegados. Nossos ídolos nos provam que nossas mais elevadas aspirações morais podem ser alcançadas; que somos seres capazes da perfeição. Em É a nossa vaidade que os preservará.

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