
Neste começo de noite, sou surpreendido com um tuíte avaliando o disco Led Zeppelin III como "certamente o melhor álbum do universo" Não me levem a mal. Este disco de 1970 não foi o começo do fim, apenas um monte de experiências que não deram certo.
A melhor música do disco, sem dúvida, é Since I've Been Loving You, seguida por Immigrant Song. A pior, de longe, é Hats Off To (Roy) Harper.
Bem, vou ser bastante chato (como sói acontecer)! Dois anos depois de gravarem Babe I'm Gonna Leave You, eles pegaram o jeitão folk dessa música e usaram em todo este disco, que acabou se tornando um favorito dos "fãs de elite", para meu desgosto. Provavelmente a dupla Page e Plant estava ficando de saco cheio de precisar tourear o tempo todo os processos movidos pelos antigos bluesmen. Não é que esses processos tenham curado P&P da mania de se apropriar dos créditos das composições (tenho quase certeza de que aquele empresário gordo deles, o Peter Grant, teve muito a ver com a idéia), mas talvez eles tenham incentivado a dupla a compor mais material próprio: o disco Led Zeppelin III é, sem dúvida, maduro nesse aspecto, apenas com algumas picaretagens óbvias como Hats Off To (Roy) Harper ou Since I've Been Loving You. Infelizmente, isso só faz o maior problema ficar ainda maior. Os caras simplesmente não tinham a magia para compor e transformar nenhuma das suas composições mais "melódicas" em verdadeiros clássicos eternos. Eles compõem melodias bastante acústicas que já existem (não posso acusar Tangerine nem That's The Way de não serem melódicas), mas não consigo sentir aquela "pegada mágica" nessas músicas. É bem possível que o maior obstáculo não seja nem mesmo a maneira como eles tocam ou a produção, mas sim a voz do Robert Plant, aquela entonação "chorona" e pretensiosa que ele consegue colocar até na mais sensível das baladas. Seja como for, existe, sim, um problema aqui, só é difícil distingui-lo com clareza. É um problema grave que me impede de usar as palavras "baladas místicas majestosas" e substituí-las por "merda folk chata pra cacete". Enfim, acho que até os fãs mais empedernidos do Led Zeppelin não vão discordar de mim neste ponto, porque nada aqui sequer chega perto da potência e da força emotiva de Babe I'm Gonna Leave You.
Para mim, o disco tem um único clássico absoluto: o blues comprido, lento e enrolado Since I've Been Loving You, e devo dizer que a melodia também foi "quibada" (no momento, a música que me vem à mente é Double Trouble, do Otis Rush, mas tenho certeza de que houve músicas anteriores com sonoridade ainda mais parecida). Mesmo assim, as seqüenciazinhas de acordes melancólicas entre as estrofes bastam para redimi-la totalmente. Basta o Robert cantar, em vez de gaguejar ("...working from seven, seven, seven to eleven eleven eleven..." - isso era pra ser realista?) e teremos uma música digna do disco Led Zeppelin I. Porra, eu até gosto da pegada dos solos de blues da música, apesar de ser o tipo de solo roubado pelo hair metal dos anos 80 e que, desde essa época, virou uma massa amorfa e genérica que não vale nada.
Infelizmente, o resto do material vai do "bonzinho" ao "passável", descambando para a "puríssima merda". A única música realmente boa desse resto é o hit radiofônico Immigrant Song, um metal acelerado com vocais que lembram Black Sabbath e uma letra à la viking rock ('Valhalla, I am coming!', pelamordedeus!). O riff é bom, rápido e potente, mas a música em si inspirou tantas imitações "metálicas" de dar enjôo que eu não consigo ouvi-la sem que me venha à mente o hair metal dos anos 80 - de novo! Ouvindo as músicas desse disco, fico pensando como é que tanta gente acha que o Led Zeppelin é uma banda diferenciada porque ninguém jamais tentou (ou conseguiu tentar) copiar seu som. Felizmente, essa faixa só tem uns dois minutos e meio (a parecidíssima Achilles' Last Stand tem 10 minutos, meu saco!). De qualquer forma, se quiser ouvir um bom viking rock, experimente 'No Quarter'. Essa é a única música com um ambiente realmente "nórdico".
O outro rock, Celebration Day, tem uma pegada tão paranóica que me deixa confuso e mexido. A música não é ruim, só não é um clássico: Communication Breakdown é muito mais eficiente na mensagem. Mas não deixo de gostar do estilo do Jimmy Page nesta música, tocando um turbilhão de som como nunca tocou (talvez o riff seja um dos mais complexos da história do LZ, e um dos mais imprevisíveis). E Out On The Tiles não passa de um boogie genérico e descartável, uma porcaria que bem podia ficar para o Aerosmith ou o Nazareth.
O resto do disco é quase totalmente acústico ou de base acústica, e é aqui que o elemento "gosto adquirido" entra em cena. Há quem goste de todas essas músicas, há quem escolha apenas algumas, e há quem simplesmente as desconsidere. Eu fico dividido. Cheguei a um ponto em que nenhuma dessas músicas me desagrada. Talvez a única exceção seja a experiência fracassada de Friends. Essa música não é exatamente uma imitação de As You Said, do Cream, pois a melodia é diferente, mas ela usa o mesmo princípio, ou seja, a interação entre guitarra acústica e violinos com distorção especial (e muito feia, isso para não falar do "choramingo" do Robert Plant o tempo todo). Às vezes eu não me importo com a "feiúra" numa música, mas esse não é nenhum tipo especial de feiúra. É só feiúra "básica" e pronto, e meus ouvidos não suportam.
Há muita gente por aí que se diz fã de Gallows Pole, mas essa música não passa de um folk neutro que chama a atenção por causa de fatores secundários como o arranjo, os vocais e quejandos. Quem gosta do estilo do Robert Plant de cantar vai gostar da música. Se o Bob Dylan cantasse, provavelmente eu também gostasse; do jeito que foi gravada, ela não fede nem cheira pra mim. O Robert Plant canta a letra pessimista e realista como se estivesse cantando sobre o Gollum e o capiroto.
A maior dificuldade é avaliar o valor de That's The Way e Tangerine, as duas baladas obviamente melhorzinhas do disco. Como eu disse, não posso me queixar das melodias, mas alguma coisa nessas músicas me incomoda um pouco. Sintomaticamente (e acho que tem muito a ver com o Robert Plant), eu não acho a voz dele adequada para essas baladas, mas com certeza isso não é lá muito objetivo. Provavelmente eu tenha que concordar com quem acha That's The Way uma música digna de ouvir, ao passo que Tangerine continua pecando pelo excesso de sentimentalismo barato.
Outra coisa que me incomoda de maneira geral é que todas essas músicas mostram o Jimmy Page em sua melhor forma na guitarra acústica, mas todas elas criam o mesmo estado de espírito e o mesmo ambiente de "majestade sombria", e isso faz com que o disco seja muito monótono. As melodias são, em geral, boas, mas todas levam ao mesmo lugar: "reverenciai as majestades das trevas". Ah, sim: os vocais do Robert Plant ficam cada vez mais desagradáveis (o final de Gallows Pole, por exemplo, é simplesmente insuportável). Mesmo os fãs precisam admitir que o estilo vocal imutável dele pode encher muito o saco de vez em quando. Funcionou bem da primeira vez, mas por que ele precisa repeti-lo ad nauseam?
O aspecto realmente desagradável do disco é a última faixa, Hats Off To (Roy) Harper. Até hoje não consegui atinar para o que o verdadeiro Roy Harper (um respeitável cantor de blues/folk) tem a ver com a música. Talvez ele tenha sido convidado a cantá-la, como Roger Waters fez em Have A Cigar, quem sabe? Por falar nisso, talvez ele tivesse feito bem em aceitar, porque a música em si é uma cópia bastante fiel de Bring It On Home, com os mesmos vocais afetados e a produção confusa. É um blues, claro, mas um blues muito ruim, talvez um dos piores de todos os tempos.
Mas tenho uma nota positiva sobre o disco. Por muito melhor que o disco seguinte viesse a ser, Led Zeppelin III pelo menos é melhor no fator "inteligência". Por um lado, ele não tem nenhum "hino do rock" óbvio como Black Dog; por outro lado, ele dá uma abaixada no aspecto pseudo-místico da carreira da banda, pois todo o material é bastante realista, musiquinhas de hobbits. Ele é berrante e pretensioso, logicamente, mas tenho de dar algum crédito à banda por escrever algumas letras decentes e conseguir se apresentar como uma banda "pensante", racional e positiva, não como um bando de seguidores drogados de Aleister Crowley em busca de uma foda.
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