sexta-feira, 3 de maio de 2013

Me corrigir? É ruim, hein?

Hoje eu não tinha programado nenhum post (gosto de cozinhá-los bem antes de pôr na mesa), mas este aqui chega meio de supetão porque, no Twitter, acabei de tomar uma pisada no dedão daquelas de arrancar a unha. Será um post no melhor estilo "metralhadora".

Tuitei um comentário sobre a impossibilidade de haver vinhos de qualidade realmente boa no Brasil, e acabei usando a palavra "oxímoro".

Seguidora, muito bem-intencionada, mas remplie d'elle-même, chega me chamando pelo nome e me corrigindo, afirmando ex cathedra e um tanto condescendentemente que a palavra "oxímoro" não tem acento. Vejam a interação (vou preservar a arroba e o nome da moça porque hoje estou muito generoso. Não devia, mas é o meu "pacote de bondades" do dia):


O, pulchra puella e amáveis leitores deste blog: o Twitter não é o foro adequado para uma explicação etimológica detalhada, por isso a explicação vai aqui.

A forma "oximoro" (sem acento) está registada em Rebelo Gonçalves, além de ser a forma preferida no recente dicionário Houaiss (pelo latim: "oxymorum", com o segundo "o" longo).

Entretanto, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa foi buscar a acentuação tônica "oxímoro" no étimo original grego ὀξύμωρον (oksýmoron). Não se trata, com efeito, de um hiperbibasmo (deslocamento do acento tônico), pois esse acento é perfeitamente justificável, embora controverso.

Nessa disputa, considero mais legítimo o étimo grego nas palavras latinas dele provenientes, ao contrário da corrente dominante que afirma que o fato de o termo chegar ao português através latim exige o étimo latino (e sua respectiva acentuação).

Percebam, meus filhos, que a malfazeja "Nova Ortografia" não faz recomendações quanto a esse tipo de escolha (prefere tratar de coisas mais supinas e cosméticas). Quando muito, indica que, se escolhermos a proparaxitonia, devemos escrever com acento gráfico na sílaba tônica.

Para finalizar, meus queridos, é MUITO complicado me corrigir. É praticamente impossível. Quem quiser tentar, que venha muito bem armado com argumentos irretorquíveis. Caso contrário, posso não ser tão bonzinho quanto fui agora.

Nenhum comentário: